A democracia está em maus lençóis. O Brasil tem há mais de dois meses um grande jornal censurado pela Justiça. O governo argentino edita uma lei criando o monopólio estatal para as redes nacionais de comunicação.
O populismo vai ensinando o eleitor a detestar a imprensa. É o ovo da serpente.
Uma marcha firme e perigosa avança no continente emergente. A base política da maioria dos governos latino-americanos é uma massa de cidadãos pouco esclarecidos, que experimentam certa afluência econômica. Seu voto é orientado por pequenas benesses assistenciais e grandes demagogias – não por informação, consciência e cultura.
A sociedade brasileira é débil para reagir contra a censura a “O Estado de S. Paulo”, um ato obscuro que protege a família Sarney, conveniada com o governo central. Por que a debilidade?
Porque o voto que sustenta Lula e os demais governantes vem, cada vez mais, de contingentes esmagadores que não lêem jornal. O cálculo político dos candidatos, os maus e os bons, está se voltando para essa imensa periferia cultural – infelizmente não capacitada para o debate.
A democracia representativa está cada vez mais fincada na ignorância. O pensamento e o contraditório estão sumindo das campanhas eleitorais. Um tour cinematográfico de Lula pelo rio São Francisco fala mais do que um milhão de artigos e reportagens sérios sobre o assunto.
Por falar em cinema, vem aí “Lula, o filho do Brasil”. As notícias são de que a obra recebeu retoques finais do publicitário Duda Mendonça. Numa sociedade livre, não haveria problema algum nisso. Numa sociedade refém do espetáculo populista, isso é a prostituição do voto.
Essas estranhas sociedades emergentes do terceiro mundo estão caminhando docemente para o pior autoritarismo. Aquele respaldado por populações gigantes que ascendem com mais recursos no bolso do que na cabeça.
Não tenham dúvidas de que as propostas “populares” de democracia direta e decisões plebiscitárias vão se multiplicar. É a ascensão da indústria eleitoral.
A instituição do voto, tal qual a conhecemos, faliu.
por: Guilherme Fiuza
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