terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Política - Cabral trabalha para evitar apoio de Dilma a Garotinho

A aproximação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com o ex-governador Anthony Garotinho (PR) causou desconforto no Palácio Guanabara e o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), tentará, durante o Carnaval, negociar com presidente Luiz Inácio Lula da Silva poio único a sua candidatura à reeleição no Estado.

O encontro entre Dilma, pré-candidata do PT à Presidência, e Garotinho, que deve concorrer à sucessão estadual pelo PR, aconteceu na semana passada no Rio de Janeiro e deixou o governador do Estado, fiel aliado do Palácio do Planalto, bastante irritado.

"Foi algo inesperado e que deixou o governador atento", disse à Reuters um dos caciques do PMDB no Rio.

Quase uma semana após a reunião, Cabral ainda demonstra mau humor sobre o assunto. "Não quero comentar isso não", afirmou Cabral a jornalistas em tom de nervosismo, após evento no Tribunal de Justiça do Rio nesta segunda-feira.

Garotinho, duas vezes governador do Rio, já foi um crítico feroz do presidente Lula e, no passado, costumava atacar publicamente o presidente, época em que atuava como secretário de Segurança Pública na gestão de sua mulher, Rosinha Garotinho, que o sucedeu.

O ex-governador do Rio foi candidato à Presidência em 2002, mas não chegou ao segundo turno da eleição, vencida pelo presidente Lula.

De olho na sucessão estadual em 2010, Garotinho, que deixou o PMDB depois uma intensa disputa interna com Cabral pelo comando da legenda regional, se filiou ao PR , partido da base do presidente Lula, assim como o PMDB, de Sérgio Cabral.

"A nossa estratégia é de uma ação conjunta no Rio. O Garotinho quer o apoio da Dilma e em troca oferece palanque a ela", afirmou à Reuters o assessor particular de Garotinho, Ricardo Bruno.

O ex-governador tenta convencer o Planalto que seu apoio não pode ser desconsiderado.

Provável adversário de Dilma na corrida presidencial, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), articula para ocupar o palanque da candidatura do deputado federal Fernando Gabeira pelo PV, mas ainda há dúvidas, se o apoio será totalmente para a pré-candidata Marina Silva, ou dividido com Serra.

A candidatura de Gabeira deverá representar a aliança entre quatro partidos de oposição: PV, PSDB, PPS e DEM.

Pesquisas internas encomendadas pelo PR apontam que Garotinho teria mais de 20 por cento das intenção de voto.

"Acho que ela (Dilma) não vai querer prescindir de 23 por cento dos votos do Rio", declarou Bruno ao ressaltar a força política de Garotinho no interior do Estado, além do apoio de Rosinha, que é prefeita da cidade de Campos, umas das mais beneficiadas com os royalties do petróleo.

Nos bastidores, a tropa de choque de Cabral tenta abafar a candidatura do rival e tentará usar a influência do presidente Lula no partido do ex-governador para isso.

No entanto, o PR garante que a candidatura de Garotinho é real. "É irrevogável o apoio da direção nacional do PR à candidatura de Garotinho ao governo do Rio", disse o partido em nota.

Cabral pretende conversar com Lula na Marquês de Sapucaí sobre o cenário eleitoral no Rio. Segundo o Palácio Guanabara, o presidente deve acompanhar os desfiles das escolas de samba do camarote do governo do Estado, pelo segundo ano consecutivo.

FHC

Mesmo incomodado com a aproximação com Garotinho, Cabral manteve o discurso fiel a Dilma e defendeu a ministra no embate com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em artigo na imprensa no domingo, intitulado "Sem Medo do Passado", e em palestra a tucanos no fim de semana desafiou o "lulismo" a comparar as duas gestões "sem mentir e sem descontextualizar".

"A Dilma não chamou o FHC para a briga. O ex-presidente tem um papel na história brasileira extraordinário e ninguém nega isso", afirmou Cabral. "É natural comparar em um processo eleitoral. Ou você compara propostas entre quem não assumiu e quem já fez ou entre os partidos que já ocuparam o governo federal", disse

Por Rodrigo Viga Gaier - RIO (Reuters)

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