O Brasil é um país de tolices, extremas ou moderadas – tem para todos os gostos, os bons e os péssimos. Um dos gestos que consta do manual do tolo é o seguinte: ao se sentir ofendido, ele deve gritar e repercutir a “ofensa” para todo mundo ouvir/ler, crente que assim ele estará angariando adeptos à sua defesa. Mas não se deve esquecer que as reações podem ser adversas, para além do pretendido, e que essa presunção de ser dono da verdade total pode ser apenas isso, presunção. Observando-se as consequências do alarde moraliazante, o que se vê é que o efeito pode ser o contrário daquele esperado: o efeito pode ser – e será, muitas vezes – multiplicador. Nesse momento, o ofendido produz o que o provocador da ofensa mais deseja quando cria polêmicas artificiosas: publicidade e repercussão.
Em uma palavra, é quando se pode dizer que alguém perdeu uma ótima chance de ficar calado, para eviar que um sopro vire uma ventania, uma gota de suor, um caudaloso oceano. Pois o PT acaba de perder uma dessas oportunidades de ficar quieto, e evitar que um desenho ganhe uma tremenda repercussão nacional. Foi isso o que aconteceu com a charge acima, do cartunista Nani, alvo da vigilância seletiva do PT: veio parar aqui no blog, e está sendo publicada em muitos outros blogs e sites.
Toda essa repercussão vem acontecendo no mesmo instante em que o coordenador de comunicação da campanha petista, Rui Falcão, chama a charge de “canalha”, vociferando da seguinte forma a sua sentença moral-moralista-moralizante sobre a Criação de Charges: “Charge canalha merece repúdio geral. Humor e crítica nada tem a ver com ofensa moral“.
Ora, bolas: enquanto as escolas públicas apodrecem e caem os telhados, faltam professores, infra-estrutura básica, merenda e segurança; enquanto doentes morrem nas filas dos hospitais públicos; enquanto o crime desorganizado vai-se organizando; enquanto os menos favorecidos mofam às portas da cega Justiça a depender de defensores públicos mal-remunerados; como se não tivesse nada mais produtivo a se fazer no Brasil, o Partido dos Trabalhadores está mobilizando advogados para processar criminalmente o autor do desenho acima.
É preciso que alguém tire o petista supracitado de seu pedestal-da-pretensa-unanimidade, e que o informe que essa mania totalizante de esperar “repúdio geral” não passa de um mero devaneio tolo. A charge pode ser de péssimo gosto, para alguns, ou de ótimo gosto, para outros, mas quem há de ditar as regras do bom gosto à zona do mundo?!
Por mais que os petistas queiram impor à opinião pública os seus padrões morais do bom gosto e do politicamente correto, a charge de Nani não terá “repúdio geral” nem que os petistas chorem – nem mesmo que os petistas processem todos e todas que tenham uma opinião diferente daquela que consta da cartilha dos Iluminados morais.
A manutenção de uma cruzada vigilantista pelo bom gosto no desenho pode render ao PT a conquista de mais e mais opiniões contrárias às suas. Alguém deveria lembrar os petistas que o feitiço sempre pode virar contra o feiticeiro, e que o tal “repúdio geral” desejado pode se converter em desdém de muitas pessoas que não se alinham aos vigias dessa ditadura do politicamente correto.
Como os adeptos do partido diziam anos atrás a valer para o presidente Lula, agora repito isso a valer para o chargista Nani: deixem o homem trabalhar – aproveitem, e vão arrumar (que isso não há de faltar) uma trouxa de roupa suja pra lavar.
Fonte: Blog Acerto de Contas, por André Rabon
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