Espaço que foi criado para abrigar estudantes que viessem de outras cidades para estudar em Garanhuns, aquela que a partir do ano de 1958 seria a CEPG (Casa do Estudante Pobre de Garanhuns), encontra-se em total estado de abandono. Quem passa pela Rua Pedro Rocha (ao lado do Parque Euclides Dourado), bairro de Heliópolis, vê logo em uma esquina, um prédio em completo desprezo. Mais parece uma casa fantasma. Enquanto se sabe que, nos dias atuais, certo número de jovens sofre ao aportar à “Cidade das Flores”, após aprovação em cursos universitários, com dificuldade para se instalar, se vê em plena ruína um prédio que poderia servir a estes estudantes. E pior, não há sinais de interesse, por quem quer que seja, em revitalizá-lo.
AS ORIGENS DA CASA – é impossível falar da história da Casa do Estudante de Garanhuns sem falar de Geraldo de Freitas Calado, seu idealizador e fundador. Mais impossível ainda é falar em poucas linhas sobre quem foi Geraldo. Entretanto, como convém, em linhas gerais, podemos dizer que ele foi o “Pai da Garanhuns universitária” e um dos mais respeitados juristas do Brasil. Limitaremo-nos à sua história com relação à Casa. Nascido em Correntes, em 05 de dezembro de 1933, ainda criança veio com seus irmãos morar em Garanhuns, trazidos pelos seus pais, Zacarias e Eulália, que decidiram na terra de Luís Jardim fazer morada. O Colégio Diocesano de Garanhuns foi a sua primeira instituição de aprendizagem formal. Muito destacado na escola, precocemente, aos 12 anos de idade, já liderava o “Movimento em Prol do Estado Democrático” na cidade, tempo em que não descolava os ouvidos do Rádio, no intento de ouvir os comícios transmitidos pelas estações do Rio de Janeiro. Aos 15 anos torna-se Presidente do Grêmio Cultural Ruber van der Linden. Ao completar 20 anos, foi eleito Presidente da UEG (União dos Estudantes de Garanhuns), onde viria a presidir por mais 4 mandatos. Torna-se vereador aos 21 anos, sendo chamado de “Vereador dos Estudantes”. Foi a esta época que Geraldo sonhou e lutou com mais afinco pela “Universidade Federal do Agreste Meridional de Pernambuco”, instalada em Garanhuns. Para tanto, surgia a necessidade de local que abrigasse estudantes que a Garanhuns viessem residir, por ocasião de realizar seus estudos na cidade. Antes disso, foi no ano de 1953, no dia 07 de setembro, que Garanhuns vivenciou a “Marcha Branca”, que foi um movimento que Geraldo encabeçou. Esta “Marcha” custou a Geraldo duas prisões, no mesmo dia 07: uma antes do ato, quando o julgaram “comunista” (de manhã); outra, por o julgarem “integralista”, depois do ato (já à tarde)”. “Não sou nem um nem outro, eu sou é estudante”, afirmava Geraldo na ocasião. A “Marcha Branca”Tratava-se de um ato público em que todos os estudantes da cidade desfilariam de trajes brancos pelas ruas garanhuenses, por dois motivos: o primeiro, pela instalação de uma Universidade em Garanhuns; e o segundo, para que todos presenciassem aquele que seria o lançamento do gérmen da “Casa do Estudante Pobre de Garanhuns”, isso diante do Sr. Celso Galvão, então prefeito da cidade, e de diversas autoridades políticas, religiosas e educacionais. Algumas pessoas olhavam com descrença para o anseio do jovem Geraldo.
CASA SE ERGUE – ainda no ano de 1953, depois de acatada a ideia de Geraldo, o abrigo para estudantes oriundos de outros lugares para a cidade considerada a “enevoada pérola fugidia”, no dizer de Marcílio Reinaux, começa a ser alicerçado; com o apoio do prefeito, que doou terreno pertencente ao município. Sua construção fora lenta. Não obstante isso, após 5 anos, a Casa do Estudante de Garanhuns foi entregue, mais precisamente no dia 02 de maio de 1958. Um dos dias de glória da Casa foi em 1968, quando se comemorou ali mesmo os 15 anos de sua concepção. Apesar de Geraldo naquele tempo, depois de Recife, já residir no Rio de Janeiro, veio à festividade, onde foi o homenageado e o mais reverenciado entre as autoridades presentes, não haveria maior justiça. Naquele dia, na Casa do Estudante de Garanhuns, se estampava enorme faixa com os dizeres: “Ao nosso benfeitor, Geraldo de Freitas Calado, as homenagens dos estudantes garanhuenses”, o que fez Geraldo se entregar à emoção durante sua fala. Em 1972 a Casa passou por reforma. Quando do término desta, Geraldo esteve mais uma vez na solenidade de entrega do prédio reformado, oportunidade em que foi um dos que hastearam uma das Bandeiras: do Brasil, de Pernambuco e da CEPG. Curioso foi que, durante as homenagens, Geraldo não aceitou o título de “cidadão garanhuense”, que os vereadores lhe conferiram na oportunidade, não se achando digno. Os anos se passaram e a Casa do Estudante de Garanhuns veio a fechar suas portas. No entanto, ainda não temos informações precisas sobre qual o ano que a Casa deixou de atender aos estudantes.
SITUAÇÃO ATUAL DA CASA – se veja que a Casa do Estudante de Garanhuns tem toda uma história, que infelizmente está ruindo por motivos vários: não há interesse da classe estudantil de Garanhuns em se mobilizar pela sua reativação; tampouco se viu nestes quase 6 anos anos da imediata administração municipal preocupação em revitalizar o local; o desconhecimento do que foi o prédio faz com que parcela da população garanhuense se mostre indiferente ao imóvel. Todavia, a Casa se encontra com acentuados sinais de desamparo, de arruinamento, vivendo uma indiferença sem igual. Até onde se sabe, a UESG (União dos Estudantes Secundaristas de Garanhuns) era que detinha poder sobre a Casa. Devido à visível falta de interesse sobre ela, e isso já vem há vários anos, se vê mesmo é que a UESG parece ter é o poder de exterminá-la definitivamente. Também, talvez que os representantes dos Diretórios Acadêmicos das Faculdades e das Universidades de Garanhuns pudessem se mobilizar. Ah, mas não, talvez eles estejam ocupados demais, se preocupando com qual banda tocará nas suas próximas “calouradas”.
PS.: Geraldo de Freitas Calado faleceu em maio de 2008, no Rio de Janeiro. Foi enterrado no Cemitério São João Batista. Estava morando na Barra da Tijuca. Exercia cargo de Procurador Federal.
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