Há muitos anos, o jornal ‘O Monitor’, de Garanhuns, saía com uma coluna política intitulada ‘Calçando 40’. Era assinada por um jornalista consagrado, Humberto Morais, que não abria mão de um conceito: “Todos os políticos são iguais, portanto, calçam o mesmo número”. Morais já morreu e ‘O Monitor’, que era editado pela Diocese garanhuense, já não existe. Mas a frase ficou e, aqui ali, alguém a pronuncia, alguém a escreve. Conceito irreparável?
Claro que não. Os políticos, mesmo vivendo sob uma mesma égide, se diferem por particularidades que acabam mudando e marcando a atitude de cada um. Mas o objetivo de todos é o mesmo: buscar o poder, melhorar de vida e assistir o próximo. O próximo, para a maioria, não é o povo, a coletividade, mas aquele que vive em sua volta, em seu derredor, em declarada relação de compadrio.
E o que mostra a sucessão deste ano em Alagoas? Inimigos recentes, abraçados, falando em “união pelo povo”. Adversários ferrenhos de ontem, quando se acusavam e se ameaçavam, se reúnem, desconfiados por motivos óbvios, prometendo grande projeto para o Estado, mas pensando, cada um, em seu próprio futuro. Impressiona a facilidade com que apagam tudo, esquecem tudo, inclusive as próprias feridas. Aos botões da camisa, confessam sem pejo: “Não tenho saída. Ou entro no barco ou me afogo”. E seguem.
Alguns se impõem, outros são mandados, contrariam a própria vontade. Tudo em “nome do povo”. O martírio, a renúncia pessoal, o sacrifício – todos seguem o mesmo caminho. Enquanto o povo não passa de pretexto para tudo, eles seguem em frente, calçando 40.
Fonte: Jornal Primeira Edição
Por: Romero Vieira Belo
Muito bom Wellington, sobretudo porque resgata uma página do jornalismo de Garanhuns, no nome de Humberto de Morais.
ResponderExcluir